“O ritmo dos pingos
Ao cair no chão
Só me deixa relembrar
Tomara que eu não fique
A esperar em vão
Por ela que me faz chorar
Oh, chuva traga o meu amor”
(“O ritmo da chuva”; composição de Peninha)
“Será que alguma coisa,
Nisso tudo, faz sentido?
A vida é sempre um risco,
Eu tenho medo.
Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê”
(“Lágrimas e chuva”, do Kid Abelha)
Chovendo, lá fora. Sim, muita gente acha ruim e fica emburrada por não poder sair ou ter sua capacidade de locomoção reduzida. Tirando essa parcela boba da população, sobram os admiradores da chuva, a quem dedico esta postagem.
Um dos erros na observação é perguntar direta e precipitadamente “o que é” antes de entender como as coisas acontecem, quando, onde ou seus porquês. Ora, a chuva nada mais é que água. E para que serve a água? Não é para apagar o incêndio, lavar o que está sujo, aumentar a correnteza do rio? A água nem sempre cai quando é necessária lá fora, na natureza, no mundo. Às vezes ela cai para que apaguemos o fogo do desconforto ou da ansiedade, lá dentro. Talvez ela caia para nos mostrar que a paciência é uma das maiores virtudes ou para exemplificar a renovação diária, ao cair no rio e fazer suas águas se moverem adiante.
Há pouco, li um texto de um amigo que dizia que o mar fala. Pois bem, a chuva, não; mas é uma grande ouvinte. O melhor ouvinte é aquele que não fala, que não interrompe; que apenas se manifesta quando, respeitosamente, já prestou atenção ao que estava sendo falado. A chuva é assim. Sente-se próximo a uma porta ou janela, deixe apenas o vidro fechado. Comece a falar, mesmo que com o pensamento. Ela vai continuar lá, impávida.
Contudo, fuja de conversas com as chuvas de verão: elas vêm e vão com tamanha rapidez que não são confiáveis; podem levar seu segredo embora sem nem se despedir, deixando algo sujo a ser lavado ou uma chama ainda acesa.
Sentar-se ao som da chuva não tem a ver com religião ou sentimentalismo. Tem a ver com você. Quem você é (ou não) fica refletido pela abnegação dos pingos que caem, sempre ali, no mesmo lugar, perto de você. A chuva parece só sua, parece estar ali exclusivamente para você. Mas não é bem assim; alguém uma vez disse que ela cai para todos. Erros, lembranças, acertos, perspectivas – tudo flui nesse rio vertical que uns chamam de chuva, outros, de vida.
A música deste post é Sleep, da banda finlandesa “Poets Of The Fall”.