Ditadores da atualidade – parte 3

E se é um déspota que pretendeis destronar,
verificai primeiro se seu trono erguido dentro de vós está destruído

(Kahlil Gibran)

No post de hoje, você verá os ditadores com mais de três décadas de governo nas costas. Eu, que tenho dezoito anos, hoje, não chego a ter metade da idade do “mandato” de alguns desta lista.

Hosni Mubarak (Egito) – 1981-2011
Como este é um dos nomes mais buscados no Google em 2011, creio haver conteúdo bastante em outras fontes. Limito-me a dar informações breves. De novembro de 1954 a fevereiro de 2011, o Egito teve apenas três presidentes. O primeiro deles, Gamal Abdel Nasser, governou até sua morte, em 1970, ano em que assumiu seu “preferido” para o cargo, Anwar El Sadat. Este foi assassinado em 1981 e Mubarak chegou ao poder. Após três décadas de domínio, Mubarak ruiu com as manifestações pró-democracia. Li em um texto do The New York Review Of Books que havia uma piada, no Egito, que perdeu seu propósito após a queda de Hosni Mubarak. Ela dizia que Nasser, um idiota, procurou por alguém mais idiota que ele para ter como sucessor caso fosse necessário; e achou Sadat. Anwar El Sadat, por sua vez, procurou alguém ainda mais idiota para que pudesse ser seu sucessor, até encontrar Mubarak. E Mubarak? Bem, ele ainda estava procurando. Até ser derrubado. Aliás, Mubarak tem mesmo vocação para ditador, não acha? Essa carinha gorda lembra tanto Jabba the Hut, da saga Star Wars…

Robert Mugabe (Zimbábue) – 1980
Referência quando o assunto é ditadura, Mugabe é provavelmente o mais idoso desta lista – os leitores que me perdoem, mas não chequei a idade de todos -, com 87 anos. Tem o mesmo perfil de Fidel Castro – de quem falaremos logo abaixo: tem formação universitária, foi guerrilheiro, passou anos preso, libertou seu país, etc. Mas tudo um dia acaba. Ou não, se o assunto for Robert Mugabe no Zimbábue. Um marxista dos tempos da URSS, ocupou o cargo de primeiro-ministro zimbabuano a partir de 1980, quando, em acordo no Reino Unido, conseguiu a independência de seu país. Foi eleito presidente em 1984… E depois, em 1990, 1996, 2002 e 2008 (ufa!) venceu eleições igualmente fraudulentas.

Rico em jazidas de diamante, o Zimbábue figura na 143ª posição do ranking de mortalidade infantil da ONU. A expectativa de vida é de quase 44 anos. Mais de três milhões de zimbabuanos fugiram para a vizinha África do Sul, em busca de melhores condições de vida, após o agravamento da crise econômica no país, em 2010, quando o desemprego chegou a assombrosos 95%. O Zimbábue é o último colocado no ranking de IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, medição feita em 169 países. Atualmente, a inflação no país é a maior do mundo, atingindo inacreditáveis 169.000% – mas já chegou a ultrapassar os 1.000.000% anuais, em 2008. Em 2009, Mugabe formou uma coalizão com o primeiro-ministro, Morgan Tsvangirai, mantendo, assim, seu domínio político enquanto trata de suas enfermidades em modernas clínicas no Cingapura.

José Eduardo dos Santos (Angola) – 1979
Chefe das Forças Armadas Angolanas e presidente do partido Movimento Popular pela Libertação de Angola, dos Santos é o segundo presidente da curta história independente de Angola, que começou em 1975. José Eduardo dos Santos era uma figura eminente no cenário político local mesmo antes de assumir a presidência, em 1979, após a morte de seu antecessor, Agostinho Neto. Aliás, olha só com o chefe de que país foi fotografado em 2003…

Em 1992, dos Santos conseguiu 49,5% dos votos, em primeiro turno, o que levou a disputa a segundo turno. O melhor candidato da oposição, Jonas Savimbi, que havia conquistado pouco mais de 40% do eleitorado, simplesmente desistiu da disputa, alegando que não seria possível realizar eleições por trás das quais houvesse fraude. Desde 2001, dos Santos acena com novas eleições, promessas de desenvolvimento de seu governo altamente corrupto e repressivo (especialmente com a imprensa), mas seu partido – o MPLA – sempre consegue um “jeitinho” de evitar o pleito. Em 2010, o MPLA, absoluta maioria no Parlamento, aprovou emenda que garante a eleição presidencial indireta. Ora, se dos Santos é do partido de maioria no Parlamento… Angola está entre os dez piores países em índices de transparência governamental e corrupção e também no top10 negativo de desenvolvimento humano.

Teodoro Obiang (Guiné Equatorial) – 1979
Um dos ditadores mais descarados, Obiang voltou a ser notícia, há duas semanas, quando um de seus filhos encomendou um iate a uma empresa alemã. Até aí, não haveria mesmo problema, afinal, o país africano não produz tal mercadoria… Quer dizer, não haveria se a embarcação não custasse US$380 milhões – mais de 1,7% do PIB da pequena Guiné Equatorial (a assessoria do governo assegurou, após vazamento do episódio, que Teodorin Obiang, o “filho do chefe”, havia mudado de ideia acerca da aquisição).

Em 1979, Obiang chegou ao poder após, em golpe de Estado, assassinar seu antecessor, seu tio, o genocida Francisco Macías. Eleições para o mandato de sete anos foram agendadas para 1982, as quais ele venceu. Em 1989, reelegeu-se, uma vez que era o único candidato. A partir de 1996, outros partidos foram finalmente legalizados e, nas eleições daquele ano e, novamente em 2002, Teodoro Obiang foi reeleito com 98% dos votos. Mais tarde, em 2009, recebeu 97% dos votos e permanece no comando de um dos mais corruptos – senão o mais -, opressivos e antidemocráticos países do mundo. Em 2008, adquiriu o poder de governar por decreto – algo com o que a atual presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, andou sonhando, logo no começo de seu mandato. Aliás, falando em presidentes do Brasil…

Ali Saleh (Iêmen) – 1978
Antes que algum leitor mais especializado em Oriente Médio conteste a data de 1978, dizendo que o Iêmen, tal como é hoje, se constituiu apenas em 1990, eu explico: Ali Abdullah Saleh foi presidente do Iêmen do Norte de 1978 a 1990, data da unificação, que o manteve no cargo. Tenente do exército norte-iemenita, Saleh chegou ao poder após o assassinato do então presidente Ibrahim al-Hamdi. Foi reeleito como presidente do Iêmen do Norte em 1983. Ali Saleh e seu partido saíram vitoriosos em 1993, na primeira eleição após a unificação do país, mas o Partido Socialista contestou os resultados do pleito, provocando conflitos internos. Em 1999, reelegeu-se com mais de 91% dos votos. Em 2006, prometeu não concorrer, pois era hora de treinar a juventude, segundo suas próprias palavras. Mas, num ato de pura malandragem, mudou de ideia, concorreu e venceu em primeiro turno, com quase três quartos do eleitorado a seu favor. Confrontado com protestos em seu país desde o final de 2010, Saleh ainda balança. Mas não cai.

Khalifa Al Khalifa (Barein) – 1971
O Barein é um paraíso para muitos, assim como o são outros prósperos celeiros petrolíferos do Golfo Pérsico, como os Emirados Árabes Unidos ou o Catar. Mas nem tudo são flores quando o primeiro-ministro (Khalifa bin Salman Al Khalifa) ocupa o cargo há quatro décadas. E mais: o rei do Barein, Hamad Al Khalifa – assim como o primeiro-ministro -, são sunitas. E a maioria bareinita pertence ao xiismo, a ala mais radical do Islã. Traduzindo… São membros da minoria comandando a maioria. Óbvio, isso não acabaria bem.

Al Khalifa foi apontado como primeiro-ministro em 1971, por seu irmão, Isa bin Salman Al Khalifa – o então rei do Barein. Seu poder nunca foi questionado, uma vez que é membro da família real, sendo tio do atual rei, Hamad bin Isa Al Khalifa. O Barein, que outrora fora província da Pérsia – atualmente, Irã -, e tem a composição religiosa de sua população semelhante ao Irã, com maioria xiita, pode estar com os dias de sua monarquia contados.

Muammar Khadafi (Líbia) – 1969
Certamente o mais bizarro de todos, Khadafi anda especialmente famoso. Com a iminência de sua possível queda, seu país tem ocupado todo caderno de notícias internacionais. Khadafi é um líder militar que, após tomar o poder através de golpe, foi sábio para prevenir-se contra possíveis golpistas, diminuindo os poderes das forças armadas líbias. Criou também a chamada “Jamahyria”, termo usado para designar as espécies de “divisões regionais” ou “comitês populares” do país; Khadafi se orgulha desse sistema – apesar de a Líbia não ter uma Constituição, por exemplo – e o chama de democrático.

A gestão Khadafi, especialmente nos anos 1970 e 1990, foi inexoravelmente relacionada com atos terroristas. Entre 1992 e 1999 a Líbia esteve sob sanções econômicas impostas pela ONU. A partir dos anos 2000, Khadafi resolveu bancar o bonzinho e entregou ao Ocidente alguns terroristas que “prendera” em seu território. Mas, apesar de haver algo de muito absurdo em um líder que está há mais de 40 anos no poder, ao menos Khadafi consegue dançar conforme a música das grandes petrolíferas estadunidenses e britânicas – e a recíproca também é verdadeira, quando o líbio se irrita com alguma coisa. Aliás, a irritação de Muammar Khadafi é algo singular: há alguns anos, em encontro da ONU de chefes de Estado, realizado em Nova Iorque, ele recusou hotéis de luxo, alegando preferir acampar com sua tenda no Central Park (mas, em face a tal estranheza, há de se considerar que ele escapou de um atentado enquanto estava em um prédio, episódio que lhe gerou tal fobia); como seu pedido foi obviamente recusado, Khadafi largou um punhado de urânio, desprotegido, na pista do aeroporto de Nova Iorque, para a loucura dos agentes estadunidenses.

Perpetrando-se com violência, repressão, e várias pitadas de bizarrice, Khadafi é o ditador mais enigmático de todos.

Os irmãos Castro(Cuba) – 1959
Um dos poucos ditadores que não se valeram de eleições, o advogado Fidel Castro comandou Cuba de 1959 a 2008. Sim, uma pesquisa rasa constatará que Fidel ocupou, logo após a marcha sobre Havana, em 1º de janeiro de 1959, o cargo de comandante-em-chefe de todas as Forças Armadas e também o cargo de primeiro-ministro. Por mais mirabolante e inacreditável que pareça, Fidel, Che, Dorticós e seus revolucionários retiraram um ditador do poder, antes de instaurar o mais duradouro regime (intitulado de) comunista nas Américas. Sim, antes de Fidel, a realidade cubana, por sete anos, havia sido a ditadura de Fulgencio Batista.

Apesar das palavras “Fidel Castro” e “Cuba” trazerem à mente um militar fardado e barbudo, de charuto na boca, exalando comunismo, o patrimônio da família Castro foi estimado em mais de meio bilhão de dólares, em 2005. Após muito tempo de governo à frente do país que virtualmente erradicou a AIDS e o analfabetismo de sua população e é referência em estudos médicos, Fidel, devido a problemas de saúde, foi obrigado a delegar o poder ao irmão, Raúl, em 2008. Raúl Castro tem dado continuidade ao regime do irmão mais velho e não há perspectiva de abandono da revolución mais idosa da atualidade, com 52 anos. Mas não sejamos românticos em demasia com relação à ilha caribenha: Cuba também é palco de repressão, censura…

Abaixo, mapa com os países dos ditadores de todos os três posts da série. Em preto, assinalados os países dos ditadores mencionados neste post.

A música de hoje é “Imagine”, do lendário John Lennon.

3 pensamentos sobre “Ditadores da atualidade – parte 3

  1. Parabéns pelo blog e pelos posts sobre os ditadores no mundo atualmente. è vergonhoso saber que em pleno século 21 ainda exista esse tipo de governo. Mais vergonhoso ainda é saber que esses que se dizem ” governantes” não ligam a mínima para o povo dos países que governam, povo esse, que em sua maioria é carente ( e portanto necessita de mais atenção). Minha torcida é que essas revoltas do mundo árabe se espalhe por todos os continentes , principalmente o africano, e derrube cada vez mais tiranos, e que com isso traga a democracia e o desenvolvimento desse povo que há tanto vem sendo privado de sua liberdade politica!! Parabéns mais uma vez , e obrigada pelo post ( me ajudou muito) ! grande beijo!!!

  2. Olá, tenho 14 anos, adorei seu blog, e me ajudou muito em relação ao meu trabalho escolar!
    Parabéns pelos comentários inspiradores e esclarecedores e pelo blog maravilhoso também.
    Mariana Bernardes.

  3. muy interesante este blog, con respecto a Cuba, es la dictadura mas vieja del mundo entero, con muchas prohibiciones internas e falta de libertades personales.existe un rígido control interno de la vida politica, económica y social del Cubano. Se vive internamente bloqueado por las leyes que imperan.

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