Segundas-feiras

“I need a love that’s strong
I’m so tired of being alone
But will my lonely heart play the part
of the fool again before I begin?

Foolish heart, hear me calling
Stop before you start falling
Foolish heart, heed my warning
You’ve been wrong before
Don’t be wrong anymore”

(Steve Perry – Foolish Heart)

Suponha que você seja uma segunda-feira. Ninguém te quer, certo? Mas tem sempre o domingo, lá, toda semana, lhe dando a mão. Porque a segunda-feira é especial. Ao seu jeito, ela é. Não tem outro dia como a segunda. Nenhum outro sabe inaugurar a semana útil como ele. Quando o feriado cai na segunda e a terça-feira tem que dar aquela improvisada não é a mesma coisa. Não tem o mesmo gosto; a gente sabe que a sexta-feira está mais próxima, a semana não tem o mesmo sabor. Vê? A segunda faz falta, sim.

Ela irrita, claro. Deus! Como é irritante o toque do despertador pela manhã, por vezes cinzenta ou nublada, numa segunda-feira. Isso para não falar do frio que se infiltra sob a coberta quentinha. Parece que, às segundas-feiras, aumenta a probabilidade de se errar na água do café, se vestir meias trocadas e se esquecer alguma coisa. Mas, mesmo assim, a segunda é insubstituível. Indiscutivelmente imperfeita, perfeitamente natural.

Sem ela, a semana só persiste, só existe. Com ela, tudo se completa. Nem tudo na segunda-feira é bom – credo, Deus me livre de algumas segundas-feiras. Mas… Ah, não tem jeito mais natural de se começar a semana. Tudo se encaixa. Cada imperfeição se combina como o segredo de uma chave se encaixa em sua respectiva fechadura.

As recomendações de hoje são “Who You Love” e “Heartbreak Warfare”, do John Mayer.

Procura-se

Sugestão: ler o texto ao som da belíssima “This Kind of Love”, da banda Sister Hazel e/ou “Las Palabras de Amor”, do sempre oportuno Queen, ambas abaixo.

Procura-se um amor que seja igual todos os anteriores e, ainda assim, se diferencie. Procura-se alguém com quem passar outros tantos longos segundos se olhando. Alguém com quem dividir mais chocolates, alguém pra visitar os lugares que me olham quando passo. Alguém que vá ouvir uma série de frases repetidas, alguém que vai eternizar algumas músicas nos mesmos momentos. Alguém que vá me chamar dos mesmos apelidos de outrora, alguém que saiba dar carinho e bronca. Alguém que me elogie pelo óbvio, pelo que não precisa elogiar, e pelo que ninguém mais vê; mas que seja alguém que me conheça, também, a fundo, e, como todos os outros amores, que saiba me mostrar os limites e me conheça bem o suficiente para saber onde tenho cócegas e quais minhas manias – boas e ruins. Alguém que me escreva cartas – ou que, como alguns amores, ache isso muito bobo. Alguém que me roube umas lágrimas quando brigarmos, mas me devolva o calor nos reencontros e nos abraços. Alguém que fale do meu perfume, e que use sapatos bonitos, que elogiarei naturalmente. Alguém que goste dos filmes ou programas de final de semana que eu mesmo havia me prometido nunca mais repetir. Alguém que comece tudo como foi com outros amores, brincando e chamando minha atenção – com ou sem intenção. Alguém com quem eu tenha afinidades que já tive antes e que me admire e desperte minha admiração por razões repetidas.

Mas procura-se, também, nesse mesmo amor, algo inédito, que seja totalmente diferente dos outros amores, e que, paradoxalmente, convirja para o mesmo fulgor incandescente dos outros. Que esse alguém encontre mil e uma formas novas de me conquistar e que desperte em mim as ideias que nem eu mesmo acreditava existirem. Que esse alguém goste de músicas que nunca ouvi, que tenha um paladar novo, e busque sempre o sabor de ser feliz a dois, mas de um jeito particular. Procura-se quem caia na rotina, de vez em quando, só para não achar que é tudo um sonho rosa; mas que seja alguém a quem dar a mão e não ter medo de desbravar o desconhecido. Que esse alguém pratique esportes que nunca fiz, entenda de coisas que eu talvez nem queira entender, e sonhe em morar em algum lugar que nunca pensei ou quis. Que esse alguém invente novos apelidos, descubra novos defeitos e desperte atitudes diferentes, totalmente novas e supreendentes. Que esse alguém reclame de coisas que eu não esperaria reclamação, que esse alguém não fale apenas o quê e quando eu esperar. Que esse alguém pense diferente e puxe minha orelha por coisas até então naturais para mim, e que ache engraçado eu fazer palavras cruzadas ou qualquer outro hábito.

Que esse amor seja fecundo, revigorante e acalentador. Que traga cores novas, rimas novas, tudo novo. Porque tudo que se passou é tudo que se conhece. Tudo que passou, passou. Que esse novo amor abra os olhos que, por ora, não sabem o quê devem enxergar, como uma criança pequena e iletrada, perante um livro cheio de palavras e palavras.

Que esse novo amor seja uma cópia dos meus sonhos. Ou não. Que seja forte como eu, mais forte, ou mesmo mais fraco. Que me toque o coração como todos os outros, ou como jamais o fizeram, ou… Que não seja tão profundo. Mas que seja novo.

Que esse novo amor não apague nada. Que ele não diminua a lembrança de tudo que já se foi nem do que se debate em meus pensamentos. Que ele não ouse tentar invadir lugares onde jamais pertencerá. Que não ouse desrespeitar as memórias que descansam em paz e solidão, no quartinho do passado. Não seria amor se fizesse algo assim. Não espero, mesmo, que seja novo para apagar, pois o que se apaga, embora não morra, deixa de viver – em si ou no outro. Não se apaga história, pois história é como a mobília de um quarto, que não deixa de existir apenas porque apagamos a luz. Pode-se fechar a janela, mas jamais apagar o sol.

Que esse novo amor apenas venha, aconteça, nasça.

O dia é uma eterna espera.

Fácil

É no silêncio, no vazio, em meio à vontade ou à saudade, que a verdade sussurra aos ouvidos aquilo que passamos o dia todo negando.
É no incompleto, na metade, na falta e na lembrança que o coração discursa em alto e bom som para si mesmo.
É na palpitação, no medo, no passo contido e na palavra engasgada que o sentimento se manifesta para todo bom observador ver.
É no caminho, no decurso, na ida e na vinda que se verificam o valor e o poder das palavras.
É no espelho, na rima, na prosa e nas cartas antigas que se vê quão fácil a presença fácil de hoje pode se transformar em ausência dolorida amanhã.

“I Won’t Let You Go”, do James Morrison, é a recomendação do dia.

Ligação

E se o futuro se recusar a me dar a mão mais uma vez, uma vezinha, eu vou sem ele. Ah, não. Não dá. Não consigo ficar esperando por ele enquanto tem tanta coisa me esperando também. Sou ocupado, ambicioso, tenho pouco tempo! Alguns dizem que sou teimoso; outros, impaciente. Mas a verdade é que dei um ultimato ao meu futuro. Ele não vai se recusar a me dar a mão novamente.

Enquanto o passado tenta me implicar em histórias mil, coisas inacabadas ou incompletas, tão rotas quanto um navio no fundo do mar, eu chamei o futuro pra uma conversa. É. O passado é cheio de histórias pra contar, e gosto de muitas. Aliás, gostaria de reviver algumas. Mas eu me interesso mesmo pelo futuro. Tenho uma quedinha por ele. , tenho um tropeço por ele. Quem não tem?

Sim, o futuro tem muito o que aprender. Alguém como eu, humilde em minha limitação, sabe bem disso. Sempre aprendemos. Mas, enfim, como ia dizendo, o futuro é bacana justamente por ser uma folha em branco: ele é um grande ouvinte. Adoro grandes ouvintes. Parecem sempre entender tudo.

Mas… O futuro é estranho, por outro lado. Ele é meio inseguro, incerto… Não tem certeza de nada. Nosso papo se resumiu em três partes: a minha fala, a atenção dele, e as incertezas que ele tem. Juro, se não gostasse tanto dele, teria me levantado e saído sem nem olhar para trás – digo, para a frente.

Bom, no fim… Nos acertamos. Pelo menos é o que eu sei, porque, no que depender dele, xi… O futuro é complicado mesmo. Confesso que a cada dia o entendo mais, mas ele parece não me corresponder. Sempre que eu olho pro futuro, tem aquela interrogação enorme sentada sobre as minhas ideias e planos. Que coisa!

Amanhã, mesmo, a gente vai se ver de novo. Vai ser outro papo inconclusivo e o de sempre, lá, vai me ligar querendo marcar um flashback. Ah… Vou ser sincero, tem muita coisa que eu adoro ou adoraria reviver. É sempre bom. Mas meu negócio firme, meu caso sério começa amanhã. Como sempre, e para sempre. Não consigo tirar mais os meus olhos do futuro, é quase aquele sentimento de um amor à primeira vista.

Prazer, eu sou o hoje.

A música deste post é “If You Ever Come Back”, do The Script.

Sem fim

Às vezes, tudo o que queremos é não nos preocuparmos. Queremos deixar de lado os problemas e também a busca por suas soluções. Queremos nos focar no que verdadeiramente importa. Queremos amar sem preocupações maiores.

Mas, não dá para amar sem sofrer, sem passar por problemas. Não dá para chamar de “amor” se não houver luta. Não dá pra se erguer confiante num dia sem ter conhecido a derrota no anterior. Não dá pra se dizer apaixonado sem saber o que é perder. Não há conquista de valor sem perda anterior. Não há conquista sem propósito. Não há propósito sem desejo. Não há desejo sem vontade. Não há vontade sem cuidado. Não há cuidado sem carinho. Todo amor é carinho. Não há amor sem história. Não há história sem riscos. Não há riscos sem esperança. Não há esperança sem amor.

E… Ninguém vive de lembranças. Pode-se saborear um início doce, ao começar a relembrar, mas o fim é sempre amargo, mesmo para as maiores histórias, se a outra pessoa não está. Impossível deveria ser perder.

A impossibilidade é o vício do amor. O amor é a rota para o infinito.

A música de hoje é “Goodnight goodnight”, do Maroon 5.