“O amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte”
(O Pequeno Príncipe)
“…Whenever I was insecure
You built me up and made me sure
You gave my pride back to me
Precious friend,
With you I’ll always have a friend
You’re someone who I can depend
To walk a path that sometimes ends
Without you
Life has no meaning or rhyme
Like notes to a song out of time
How can I repay
You for having faith in me…”
(Simply Red – You Make Me Feel Brand New)
Enquanto muitos se preocupam com a origem da vida, decidi me preocupar com os mistérios da saudade. Não sou um grande estudioso nem entendedor; simplesmente tenho um coração bem espaçoso.
Saudade, todos sabem, envia aviso prévio. E, mesmo sendo algo esperado, seu impacto é sempre superior a qualquer surpresa. Não há quem não se renda – mesmo que levemente – a ela. Seu poder é irresistível; e seus efeitos, congelantes.
Abrir a porta do cômodo vazio, onde outrora havia muita vida, faz com que o vazio adentre o corpo, por melhores que sejam as memórias. Aliás, quanto melhores forem as memórias, mais forte é o impacto desse vazio. Memórias são a segunda coisa mais valiosa do mundo, porque elas atestam o quão bem gasto foi o tempo (que é a coisa mais valiosa).
Só consigo sentir saudades do que fui capaz de amar. Não amo sentir saudades, mas sinto saudades de poder amar ao vivo e não meramente com palavras. Relembrar é gostoso, e dá um apertozinho no peito, mas – a alma que me desculpe – nada se compara à presença, à voz, ao sorriso e ao corpo.
Recuso-me a filosofar sobre a vida. Todo mundo filosofa sobre ela; cada um tem a sua teoria e os seus clichês de bolso. Eu, não. Decido, a partir de hoje, ser diferente. Vou ter a minha filosofia, sim, mas não sobre a vida; e, sim, sobre a saudade.
Ora, todos são movidos pelas ausências e faltas. Ninguém busca prazer ou satisfação pessoal no que já possui, no que não lhe falta. Assim como dois ímãs se repelindo, assim sou eu e a saudade: sempre haverei de desejar o que a saudade insiste em manter fora do meu alcance.
E, nesse magnetismo inevitável, não há saída. Somos todos ímãs. Um dia, juntos; no outro, basta uma mudança para que a separação seja irremediável. Mas, bem, se o destino for generoso – e ele costuma ser – os ímãs hão de ser revirados novamente, atraindo um ao outro mais uma vez, aplacando a saudade.
Quando o coração é grande como um jardim, cada novo amigo ou amor é flor de beleza ímpar; e cada despedida, uma poda insensível e tosca. Existe remédio pra essa dor engraçada ou, então, que substitua a presença? Se existe, quem foi buscar ainda não voltou.
A música de hoje é “Separate Ways”, do Journey.