Minha senhora,
Queria ser menos louco para poder entender as coisas como são. Ou para não ver o que talvez não exista. Louco que sou, acredito em sorriso interno. Veja só! Quanta bobagem… Minha loucura não tem limites. Talvez se eu continuar a escrever ela se esvaia e leve consigo suas ideias.
Como ia dizendo, fui levado por mim mesmo a acreditar em sorrisos internos. Todos sabem, evidentemente, o que é um sorriso e onde fica algo interno. Mas um sorriso interno… Como explicar sem demonstrar loucura? Digamos que seja o óbvio, o que você pensou quando leu o termo, no primeiro parágrafo: uma alegria interna, um contentamento – por alguma razão – contido.
Não é fácil descrever o que gera seu próprio sorriso interno, o que é que causa alegria tamanha que seus músculos e ossos parecem querer se desfigurar para assumir a forma de um sorriso. Mas, como todo bom louco, vou teorizar: digamos que a vontade de sorrir é diretamente proporcional ao friozinho na barriga que um certo nome provoca (aliás, talvez esse friozinho na barriga seja o jeito da barriga sorrir, internamente… Quem sabe?).
Prosseguindo, devo confessar que fiz experiências para comprovar a minha tese – ou, em caso negativo, atestar minha insanidade. É só repetir alguns nomes – pode ser mentalmente. Mas só valem os nomes de pessoas em frente das quais você se sentiria vermelho ao dizer que as ama (aqui, refiro-me ao amor conjugal). Por exemplo, grandes amigos trocam tal declaração. Amigo verdadeiro é muito bom, mas não é quem te faz sorrir internamente. Amigo, aliás, deixe-me aproveitar a brecha no texto, é quem embasa os sorrisos, quem aduba a terra em que o sorriso vai brotar e florescer. Pois bem, voltando aos nomes… Após pensar repetidamente em alguns, você certamente encontrará alguém a quem jamais direcionaria uma declaração de amor de maneira segura, confiante e sem gaguejar. É essa a pessoa que te provoca o sorriso interno.
A diferença do sorriso interno é o simples fato de ele não poder ser expresso em gestos visíveis. É, como eu mencionei, ter de contê-lo. Neste ponto, pode surgir um questionamento. E dou a melhor resposta a que cheguei, até o momento: há algo maior na força de amar que abnega sua própria vontade em detrimento da felicidade ou da manutenção do status quo da outra pessoa.
Agora você pode estar se perguntando onde entra minha loucura em tudo isso ou o que há de tão revelador nas minhas ideias. E a resposta para as duas perguntas parece-me ser você.
Atenciosamente, um sorriso do louco.
Aperte play: “Crazy”, do Aerosmith.