Galeria

Sentir é uma arte abstrata: nem todos entenderão sentimentos alheios – e alguns nem tentarão. Conversar é equiparável a ouvir música: pode trazer prazer, paz ou arruinar o ambiente de um segundo para o outro. Sorrir é quase como um haikai: de tão popularizado, muito de seu valor se perdeu, para a maioria das pessoas. Esperar é como a sétima arte, o cinema: exige paciência e atenção. Gostar é como ser artista: demanda dedicação, afeto e tolerância. Abraçar é como a arte de fotografias em preto e branco, pois toca a alma. O amor é uma arte concreta, mas elitizada: todos dizem gostar, muitos dizem querer ver, alguns se contentam com imitações e pouquíssimos têm a chance de conhecer os originais.

E escrever não é arte, é apenas outro meio de expressão.

A música de hoje é “Vamos Fazer Um Filme”, da Legião Urbana.

Carta de um louco (2)

Minha senhora,

Sei coisas de ti que talvez ninguém mais saiba. Sei que não gostas de que o cabelo te caia sobre a face; sei que cochichas com o vento coisas que ele não consegue segredar e tenta me contar; sei que seu andar é leve porque, claro, não és deste mundo – foste habituada a andar sobre as fofas nuvens. Sei que não vês muito brilho nas estrelas do céu porque elas te são companhia sempre que te olhas no espelho; sei que não admiras a lua como eu porque a conheces das suas férias estelares, e sabes que ela é muito convencida. Sei que não gostas de chuva, porque sob ela perdes a capacidade de voo; sei que não gostas de sol, pois só ele pode desviar a atenção que tu atrais para si.

Ultimamente, não mais tenho estudado. Não tenho analisado como andam teus passos, como se segredam teus sorrisos, como se articula tua voz. Por alguma razão, não mais quero fazer essas coisas. Não que não mereças ser apreciada; a questão é que não mereço eu ficar eternamente detrás do vidro das janelas da tua alma. Uma vez, aprendi que a espera é a maior prova de amor. Mas não posso esperar pelo que partiu para jamais voltar. Esperar-te-ia, sim, se ouvisse de tua voz, que voltaria daqui a, no máximo, setenta, oitenta anos; se fosse esse o caso, olharia todas as manhãs pela janela, ansioso pela tua volta, sob inúmeras mudanças de estação. Mas… Não é este o acontecido. És somente uma miragem do meu presente. De repente, não sou mais provido de sorrisos internos, o que se reflete na falta de sorrisos externos, também. Talvez seja melhor libertar essa pobre ave que não cabe mais na minha mente e jamais adentraria os recantos do meu coração.

Assim sendo, despeço-me como um pássaro. Pois quando ele se vai, alcança a graça do brilho do céu até que luz e corpo tornem-se um só, até que sonho e realidade se encontrem. E é por isso que partirei; partirei em busca de realizar sonhos – e não atrás de mais ilusões.

A recomendação de hoje é “O Vento”, do Jota Quest.

Carta de um louco

Minha senhora,

Queria ser menos louco para poder entender as coisas como são. Ou para não ver o que talvez não exista. Louco que sou, acredito em sorriso interno. Veja só! Quanta bobagem… Minha loucura não tem limites. Talvez se eu continuar a escrever ela se esvaia e leve consigo suas ideias.

Como ia dizendo, fui levado por mim mesmo a acreditar em sorrisos internos. Todos sabem, evidentemente, o que é um sorriso e onde fica algo interno. Mas um sorriso interno… Como explicar sem demonstrar loucura? Digamos que seja o óbvio, o que você pensou quando leu o termo, no primeiro parágrafo: uma alegria interna, um contentamento – por alguma razão – contido.

Não é fácil descrever o que gera seu próprio sorriso interno, o que é que causa alegria tamanha que seus músculos e ossos parecem querer se desfigurar para assumir a forma de um sorriso. Mas, como todo bom louco, vou teorizar: digamos que a vontade de sorrir é diretamente proporcional ao friozinho na barriga que um certo nome provoca (aliás, talvez esse friozinho na barriga seja o jeito da barriga sorrir, internamente… Quem sabe?).

Prosseguindo, devo confessar que fiz experiências para comprovar a minha tese – ou, em caso negativo, atestar minha insanidade. É só repetir alguns nomes – pode ser mentalmente. Mas só valem os nomes de pessoas em frente das quais você se sentiria vermelho ao dizer que as ama (aqui, refiro-me ao amor conjugal). Por exemplo, grandes amigos trocam tal declaração. Amigo verdadeiro é muito bom, mas não é quem te faz sorrir internamente. Amigo, aliás, deixe-me aproveitar a brecha no texto, é quem embasa os sorrisos, quem aduba a terra em que o sorriso vai brotar e florescer. Pois bem, voltando aos nomes… Após pensar repetidamente em alguns, você certamente encontrará alguém a quem jamais direcionaria uma declaração de amor de maneira segura, confiante e sem gaguejar. É essa a pessoa que te provoca o sorriso interno.

A diferença do sorriso interno é o simples fato de ele não poder ser expresso em gestos visíveis. É, como eu mencionei, ter de contê-lo. Neste ponto, pode surgir um questionamento. E dou a melhor resposta a que cheguei, até o momento: há algo maior na força de amar que abnega sua própria vontade em detrimento da felicidade ou da manutenção do status quo da outra pessoa.

Agora você pode estar se perguntando onde entra minha loucura em tudo isso ou o que há de tão revelador nas minhas ideias. E a resposta para as duas perguntas parece-me ser você.

Atenciosamente, um sorriso do louco.

Aperte play: “Crazy”, do Aerosmith.

“O Vendedor de Armas”

Há umas duas semanas, terminei de ler “O Vendedor de Armas”, do grande ator Hugh Laurie. Sim, ator e não autor, caso você não conheça a minha série favorita, House (e seu protagonista). Pensei, quando o acabei, em fazer algum comentário aqui no blog, mas acabei por adiar. Bom, cá estou. E, antes de começar… Sim: o livro foi lançado há vários meses.

Não quero fazer uma resenha ou análise do tipo que você encontra em grandes jornais ou na internet, apesar de ambas serem, no geral, excelentes. Mas tentar não custa nada…

Pra começar… Eu gostei de seu estilo de escrita. Os que gostam da interpretação de Laurie no papel do médico Gregory House certamente se identificarão do primeiro ao último capítulo com seu humor. Nisso ele superou minhas expectativas. Um livro policial com constantes toques de humor. É óbvio que você não vai ter dor de barriga após a leitura; o que quero dizer é que ele tenta com razoável sucesso tornar o texto ainda mais interessante.

Qualquer um que leu qualquer resenha sobre “O Vendedor de Armas” sabe que o personagem principal é Thomas Lang, um ex-agente secreto. Sim, há várias cenas de ação; e houve momentos em que passei por mais páginas do que realmente acreditara ter lido.

O livro envolve tráfico de armas, levanta – aparentemente, quase que sem querer – um questionamento sobre a questão militar, como um todo, toda a indústria bélica e o universo que gira em torno dela. Conforme ia lendo o livro, pude visualizar um bom filme de ação. Apesar de escrito há um pouco mais de quinze anos – sim, ele fez o mundo literário esperar todo esse tempo – o livro não aparenta atraso, a não ser em um momento; aliás, no momento em que você descobre que o livro não é “de hoje”.

Com vários toques “cults”, a meu ver, como um grande conhecimento de vinhos  e de Londres – onde a história é ambientada -, eu não recomendo como o melhor livro que já li, mas sim como uma leitura agradável, que tem grandes chances de te prender. O final, assim como vários espisódios da série House, não é explícito – é subentendido.

Minha recomendação, agora, é “911 for peace” da banda Anti-Flag.

Escrever

Não, essa mão não é minhaEscrever é bom demais. É como cozinhar: Você pensa nos ingredientes e como vai ficar toda a misutra no final. Perdoem-me o trocadilho, mas eu acho escrever algo muito gostoso.

Nem sempre há inspiração pra escrever, e nem sempre as palavras certas vem à mente. Mas quando surgem ideias e elas são delicadamente delineadas, dão as mãos e formam uma corrente de frases e parágrafos, é prazeroso ler e dizer: “é meu”.

Todos temos um poeta interior, que aguarda pacientemente por sua liberdade. Podemos “poetar” simplesmente com o pensamento, ou com os olhos, ao admirarmos algo do nosso jeito. Há quem prefira versos, caneta, papel; ou quem goste de algo mais digitalizado, como um… blog, por exemplo.

De qualquer forma, é uma maneira simples e prática de relaxar, de dar vazão ao que você pensa, sente, quer ou mesmo desconhece. Escrever é uma arte.

Novamente, recorro a versos de “Alberto Caeiro” para definir tal atividade (agora, não me recordo o título do poema de onde retirei o excerto a seguir):

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho

Ah, e a música desse post é “Secret”, da banda Maroon 5. Para quem – diferentemente de mim – assistiu ao filme “Muito Bem Acompanhada”, ela é parte de sua trilha sonora.