Sabedoria e decisões

Antes de começar a leitura, gostaria de deixar claro que o tipo de erro de que falo nesta postagem não são os imperdoáveis, frutos de falha de caráter; falo de eventos que estressam, irritam, mas não são falhas no caráter de quem os comete.

Honestamente… Quantas vezes você perdoaria uma mesma pessoa? Quantas vezes daria mais uma chance? Especialmente para aquela pessoa que parece demorar para aprender; quantas vezes você agiria com compaixão, bondade após algo dar errado?

Imagino que a resposta mais sincera seja “poucas” ou, quiçá, “nenhuma”. Ok, ninguém pode forçar ninguém a tomar atitude alguma, ainda mais sobre a própria vida. Contudo, há três grandes poréns nessa reflexãozinha.

O primeiro problema em não demonstrar compaixão suficiente é: e se fosse você? Você gostaria de ter mais uma oportunidade, gostaria de provar que é diferente da impressão que causou, certo? Pois bem, quando estivermos na posição de “ofendido” (entenda-se alvo do erro de alguém), não custa nada respirar fundo e nos imaginarmos do outro lado; se dói em quem recebe, o arrependimento na outra pessoa é, no mínimo, dobrado.

Não é raro, em situações assim, que as opiniões mudem drasticamente. Quem erra, além de se arrepender, tem de conviver com outra mudança: o outro alguém provavelmente passa a ver quem errou sob o ponto de vista do erro. Por exemplo: se alguém não foi pontual por um único dia, pode passar a ser visto como impontual; se alguém se esquece de algo uma vez, pode passar a ser visto como relapso, não confiável, alguém sem comprometimento. Convenhamos: esses julgamentos são muito errados. Mas também são comuns, infelizmente.

Finalmente, além de não dar chances e mudar de opinião sobre o outro, é comum acontecer algo (sob meu ponto de vista) ainda pior: quando as memórias, o passado são simplesmente esquecidos, como se jamais tivessem acontecido. Simples assim: você errou hoje comigo, então todas as centenas de vezes em que foi bom estar com você, em que você foi legal, educado(a), gentil, bondoso(a), paciente, carinhoso(a), etc, não existem mais. Infantil, eu diria. E ilógico também.

Então… Antes de por fogo no seu livro de memórias; antes de fechar seu panorama de visão; antes de demonstrar falta de compaixão, pense novamente. Todos sabemos que a vida é feita de escolhas, e as mais importantes costumam aparecer em situações difíceis de lidar. Entender todos os lados de qualquer história e pesá-los com imparcialidade é o ideal a ser feito.

A música de hoje é “Misunderstood”, do Bon Jovi.

Por quê?

Por que (mais) defensores dos direitos humanos aparecem para defender os bandidos e não as vítimas? Por que as pessoas preferm adotar um animal a uma criança? Por que se um nordestino relaciona um paulista(no) pejorativamente não é considerado crime, mas falar qualquer coisa da Bahia, por exemplo, é sentença certa? Por que se um negro chamar um branco de “branquelo”, por exemplo, o senso comum não leva a crer que é racismo? Por que falar mal e fazer piada de ricos não tem os mesmos efeitos do que quando as mesmas coisas são dirigidas a pobres? Por que é certo entupir as classe média e alta de impostos, mas é errado questionar as vontades de aprender e crescer das classes inferiores – que aliás, tem quase de tudo gratuitamente?

Somos todos iguais perante a Deus? Sim. E perante a lei?

Ouça “Até Quando?”, da banda Oficina G3.

Epitáfios indecifráveis

Tem muita coisa que acontece cujos propósitos permanecem desconhecidos por anos. Talvez nem tudo deva ser explicado; certas coisas apenas são aceitas, como formação do ser humano que há em cada um de nós. Nem sempre damos nosso melhor, mas com certeza somos importantes ou memoráveis para várias pessoas – algumas, aliás, talvez nem nos venham à memória sem esforço.

Quem sabe como será o último dia, o último fôlego, o último sorriso, ou quem lhe dará um último beijo? Talvez só um suicida se aproxime da resposta certa – o que é bastante ruim. Experiência única e comum a todos (obviamente), a vida reserva momentos que não são passíveis de interpretação, pessoas incomparáveis, e acontecimentos que podem mudar totalmente o curso dos seus planos. É raro prevermos algo ruim, uma vez que naturalmente contamos com o melhor que pode acontecer com nós mesmos, e por isso tantos inocentes nos deixam tão cedo, ou repentinamente.

Cada um tem uma vida pessoal, a qual não diz respeito a ninguém “não autorizado”. Não sabemos o que fica guardado em baús; sequer sabemos quantos baús guardados pessoas próximas têm. Pode ser que nos tornemos  vítimas das circunstâncias, ou cúmplices do destino, em acontecimentos  que jamais desejaríamos que acontecessem – apesar de naturais.

Nem tudo acaba aqui, é o que inúmeras filosofias e religiões dizem. Quem sabe da verdade? Quem pode nos dizer o que é vindouro, se tudo que todos temos é apenas cada segundo, um simples e pequeno tempo presente, sob as névoas do futuro? Viver é isso. É aproveitar a vida, vivê-la com certa ordem, e igual alegria, pois a cada segundo, entregamo-nos ao desconhecido.

…Quando morto estiver meu corpo,
Evitem os inúteis disfarces,
Os disfarces com que os vivos,
Só por piedade consigo
Procuram apagar no Morto
O grande castigo da Morte…
” (Pedro Nava)

Ninguém pode fugir ao amor e à morte” (Públio Siro)

O sentido da vida consiste no seguinte: em que não há sentido algum em dizer que a vida não tem sentido.” (Niels Bohr)

“Epitáfio”, dos Titãs é uma pedida pertinente.

Justiça avessa

Reclamar de injustiça virou moda. Todos são injustiçados. Deu enchente, o povo quer justiça; morre alguém, querem que esganem o assassino, para se fazer “justiça”; quando falta dinheiro, é injustiça (mas quando sobra, ninguém quer ajudar quem não tem); quando perde-se o emprego, é injustiça; quando os grevistas chegam a parar a economia de um país inteiro, querem justiça, mas quando chega a polícia, a coisa fica injusta; muitos reclamam da injustiça que é manter políticos corruptos no poder, mas acham justíssimo sonegar imposto. Enfim, “justiça” é outro daqueles conceitos polissêmicos, ou seja, com vários sentidos.

Boa parte das diferenças entre a justiça de um para a de outro estão fundamentadas no egoísmo. Naturalmente egoísta, o ser humano acha que qualquer mora, prejuízo, dano, revés, infortúnio, etc. é injusto. Na realidade, quem nunca pensou assim? É natural. O problema mora no exagero.

Por exemplo, não é justo que um grupo (mesmo que grande) de trabalhadores resolva fazer baderna, parar de trabalhar até que atendam seus direitos; ao invés disso, poderia haver um diálogo, uma vez que somos racionais (pensando bem, talvez nem todos). Também não é justo que os mesmos trabalhadores hipotéticos desejem um AUMENTO salarial e, ao mesmo tempo, uma REDUÇÃO no expediente. Injustiça? Em lugar algum. Outro exemplo corriqueiro seria o de um assassino, autor de crime hediondo: Quando o caso vem à mídia, surgem zilhões de heróis, capazes de “descer o sarrafo no safado”, porque querem ensinar umas verdades a ele – em outras palavras, fazer justiça. Pura balela. As pessoas se conformam com (e por vezes, infligem) tantas injustiças e não sofrem consequências, portanto, quem são elas para julgarem o criminoso? A Bíblia (instrumento comum às mais populares religiões do Brasil) defende o princípio do “tira primeiro o galho do seu olho para tirar o cisco do olho do seu irmão” (parece que há muitos que desconhecem a própria crença – mas isso é assunto pra depois).

O ponto é: Justiça não é necessariamente algo que vá trazer coisas boas, lucro, benefícios. Se a pessoa tem hábitos iníquos, e, por uma ou outra razão, pede justiça, certamente não achará confortáveis as futuras eventualidades, caso seu pedido seja atendido. Isso porvavelmente ocorre porque a Justiça, órgão importante e fundamental às sociedades, no Brasil, deparou-se com nova definição, já que o país da impunidade não é capaz de exercê-la exemplarmente – ou seja, com governantes e representates políticos da população – e, portanto, tornou-se um sinônimo de “ficar bem”, ou mesmo de “ganhar”.

Quem sabe se a população de hoje soubesse o que é um rei absolutista, ou se vivesse (alguns, novamente) sob regime militar, não seria tudo isso diferente? Quem sabe, aí sim o povo valorizasse a justiça e não atirasse pedras em dos muros da própria existência.

Indico duas músicas dos Titãs: “Comida” e “Vossa Excelência”.