Justiça avessa

Reclamar de injustiça virou moda. Todos são injustiçados. Deu enchente, o povo quer justiça; morre alguém, querem que esganem o assassino, para se fazer “justiça”; quando falta dinheiro, é injustiça (mas quando sobra, ninguém quer ajudar quem não tem); quando perde-se o emprego, é injustiça; quando os grevistas chegam a parar a economia de um país inteiro, querem justiça, mas quando chega a polícia, a coisa fica injusta; muitos reclamam da injustiça que é manter políticos corruptos no poder, mas acham justíssimo sonegar imposto. Enfim, “justiça” é outro daqueles conceitos polissêmicos, ou seja, com vários sentidos.

Boa parte das diferenças entre a justiça de um para a de outro estão fundamentadas no egoísmo. Naturalmente egoísta, o ser humano acha que qualquer mora, prejuízo, dano, revés, infortúnio, etc. é injusto. Na realidade, quem nunca pensou assim? É natural. O problema mora no exagero.

Por exemplo, não é justo que um grupo (mesmo que grande) de trabalhadores resolva fazer baderna, parar de trabalhar até que atendam seus direitos; ao invés disso, poderia haver um diálogo, uma vez que somos racionais (pensando bem, talvez nem todos). Também não é justo que os mesmos trabalhadores hipotéticos desejem um AUMENTO salarial e, ao mesmo tempo, uma REDUÇÃO no expediente. Injustiça? Em lugar algum. Outro exemplo corriqueiro seria o de um assassino, autor de crime hediondo: Quando o caso vem à mídia, surgem zilhões de heróis, capazes de “descer o sarrafo no safado”, porque querem ensinar umas verdades a ele – em outras palavras, fazer justiça. Pura balela. As pessoas se conformam com (e por vezes, infligem) tantas injustiças e não sofrem consequências, portanto, quem são elas para julgarem o criminoso? A Bíblia (instrumento comum às mais populares religiões do Brasil) defende o princípio do “tira primeiro o galho do seu olho para tirar o cisco do olho do seu irmão” (parece que há muitos que desconhecem a própria crença – mas isso é assunto pra depois).

O ponto é: Justiça não é necessariamente algo que vá trazer coisas boas, lucro, benefícios. Se a pessoa tem hábitos iníquos, e, por uma ou outra razão, pede justiça, certamente não achará confortáveis as futuras eventualidades, caso seu pedido seja atendido. Isso porvavelmente ocorre porque a Justiça, órgão importante e fundamental às sociedades, no Brasil, deparou-se com nova definição, já que o país da impunidade não é capaz de exercê-la exemplarmente – ou seja, com governantes e representates políticos da população – e, portanto, tornou-se um sinônimo de “ficar bem”, ou mesmo de “ganhar”.

Quem sabe se a população de hoje soubesse o que é um rei absolutista, ou se vivesse (alguns, novamente) sob regime militar, não seria tudo isso diferente? Quem sabe, aí sim o povo valorizasse a justiça e não atirasse pedras em dos muros da própria existência.

Indico duas músicas dos Titãs: “Comida” e “Vossa Excelência”.

Crise? Até Quando?

Ultimamente, crise tem sido um assunto constante. Seja economicamente falando, seja na área da saúde, com surtos de epidemias, seja humanamente, com crimes, terrorismo, mentiras. Enfim, crises em quaisquer lugares.

Conversar com alguém já não tem mais aquele sabor de amizade, porque hoje muitos precisam desabafar e não conversar. Viajar, então, é um problema: É muito caro e qualquer lugar é perigoso – especialmente os que nunca foram visitados (o que é totalmente contraditório, afinal, se você não conhece, não tem como ter uma opinião sobre o lugar). Relacionar-se com alguém é totalmente “antigo”, coisa de velho: Amar, ser amado, pensar em um futuro a dois é coisa do pasado, pois o “negócio” hoje é curtir cada segundo como se fosse realmente o último. O bom-senso também anda em falta no “mercado”, uma vez que líderes e entidades (e não falo só do Brasil, não), que deveriam ser respeitados por seus atos, cometem absurdos cada vez mais anti-éticos e amorais.

Uns dizem que é o fim dos tempos, outros acham que as verdadeiras mudanças e descobertas ainda estão por vir. A ganância impede que alguém tome um simples copo de água para que outra pessoa possa encher o bolso. A natureza é a culpada por inúmeras desgraças, por apenas ser como é. Alguns procuram mistérios em outros planetas ou galáxias enquanto poderiam ajudar e contribuir nos problemas já conhecidos, que não são poucos. Crianças dormem no e comem o lixo para cachorros comerem salmão em suas almofadas de seda. Soldados lutam por um petróleo que tornará ainda mais caro o orçamento. Todo dia, surge uma nova maneira de roubar os cidadãos, legal ou ilegalmente. O proprietário é obrigado a dividir a terra onde nasceu e cresceu com incapacitados e violentos invasores. Tudo faz mal: Desde um copo de leite, à luz do Sol, que é grátis – por enquanto. Volta e meia aparece alguém que previu o que acontece hoje, e outros que dizem saber exatamente como aconteceu, mas ninguém sabe dar uma solução, uma resposta.

Quero deixar claro que não pretendo mudar o mundo sozinho, não é esse o ponto. É que, depois de tantas reformas, novidades, mudanças, descobertas, tecnologias e revoluções, talvez tenha chegado a vez de a Revolução acontecer em nós mesmos, nas nossas atitudes, no nosso modo de pensar. Não é necessário ser vidente (ou qualquer coisa do tipo) para ver que o Planeta está ficando pequeno demais para tantos desperdícios (materiais ou abstratos) e conflitos (armados ou ideológicos). Dar as mãos é grátis, não mata (nem engorda) e é, talvez, a única coisa que todos os idiomas saibam expressar.

Abaixo, um trecho da música “Até Quando?” do rapper brasileiro Gabriel Pensador, que é a recomendação que deixo, para esse post.

Até quando você vai ficar usando rédea
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura

(…)

Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente

Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro

Beleza? E daí?

Que atire a primeira pedra quem não gosta de receber um elogio. Ainda mais quando o elogio é sobre a nossa aparência externa, sobre nossa beleza. É, digamos, inegável o bem-estar proporcionado por um “você está mais bonita(o) hoje” ou qualquer elogio do tipo. Talvez pelo fato de que, ultimamente, a beleza tenha passado a ser cultuada ao extremo.

Primeiramente, beleza é questão de opinião, ponto de vista. Ninguém é feio para todo mundo, da mesma forma que não haverá alguém bonito para todo mundo.

Além disso, ninguém jamais agradará a todos: Nem adianta tentar.

Quero observar que é fácil perceber pessoas por aí tentando sempre incrementar o visual; alterar formas do próprio corpo, com “adereços” e objetivos dos mais diversos; ser o mais diferente possível. Enfim, muitas pessoas estão, cada vez mais, tentando chamar a atenção.

Onde eu quero chegar é: A beleza é um termo de significância variável, pois é regulado pelas modas. Se amanhã, a moda sofrer uma reviravolta, muitos e muitas terão tomado as mais doidas atitudes a toa, por assim dizer. Talvez nem todos pensem em como vão estar daqui a trinta, quarenta ou cinquenta anos. É claro que cada um tem sua vida, a questão não é essa. O problema é esse descontentamento exagerado consigo mesmo. Pra que?

Em alguns locais do Japão, uma tradição milenar ainda prevalece: As mulheres tem de ter seus pés bem pequenos e fazê-los caberem em sapatos igualmente apertados. Elas preservam esse hábito por toda a vida. Entretanto, como o corpo não foi projetado para tal posicionamento e tal, há sérios problemas de saúde, de postura, etc.. Confira, nas fotos abaixo, as consequências de tal “costume”.

É... Por lá, chamam isso de "preservar a cultura".

É... Por lá, chamam isso de "preservar a cultura".

Sem palavras.

Sem palavras.

Não quero parecer sensacionalista. Não quero que pensem que eu sou supermoralista, ou tenho a mente de um “velho”, pois não sou nada disso.

Não é questão de beleza, preconceito ou mente “fechada”. Pare e pense: Será que realmente não há exageros circulando por aí? Homens forçudos demais, consequências do overtrainning; adolescentes extremamente furados, desenhados, escondidos atrás de músicas; mulheres depressivas e desesperadas, influenciadas pela “ditadura da beleza” (como disse o escritor Augusto Cury); crianças saindo com os amigos cada vez mais cedo, com produções dignas de adultos, pensando estarem sendo realmente adultos. Isso tudo sem falar nos conhecidos riscos à saúde em tudo isso.

A verdadeira beleza não é a que se vê. Não, não estou sendo hipócrita. Conheço garotas muito bonitas ou muito “enfeitadas” sem conteúdo algum, bem como garotos na mesma situação. Esse tipo de qualidade, a beleza física, passa tão rápido que não vale a pena cultuá-la. Entretanto, há algo, lá dentro, que jamais fica velho, que é exatamente o que tem sido esquecido. É óbvio que é bom se sentir bem, ser feliz consigo mesmo, mas… tudo tem seu limite.

Pra terminar, outras duas músicas. “Alexithymia”, da banda Anberlin e “Cuidado”, do Barão Vermelho.