Queridos desconhecidos

Quem sabe, algum dia não seja inventada uma maneira de preencher o vazio das saudades sem a presença? Quem sabe se um dia não será criado um jeito de jamais esquecer tudo de bom por que passamos?

Saudade, como já disse, lá no “debut post” é algo bom, pois revela que aproveitamos nosso tempo de maneira que o que passou nos faz falta, ou seja, foi importante de alguma forma.

Ultimamente, tenho pensado em um outro lado, talvez óbvio demais a alguns leitores, de tudo isso. Penso como estão as pessoas que vi uma vez na vida, com quem deixei um sorriso, um aperto de mão, um “obrigado”, meu tempo. O que fazem, neste exato momento, os outros turistas que conheci em minha viagem, na semana passada? Lembram de mim? Foram trabalhar, estudar, correr, se divertir, ou planejar outra viagem? E os locais por onde passei, a areia fofa que se moldou às minhas pegadas? Quantos outros não deixaram sua marca nessa calçada dae areia, e verão o mar apagá-las, guardando para si a recordação daqueles passos? Será que há alguém, agora, tirando fotos dos lugares que me encantaram, sob o mesmo ponto de vista? Ou mesmo tendo a mesma refeição? Será que alguém também valorizará esse período de descoberta e aprendizagem como eu valorizo e acabará registrando suas emoções, tal qual faço agora?

Que fazem aqueles rostos estranhos, outrora tão próximos, em suas casas? Um dia, voltaremos a nos ver? Podem estar comendo, dormindo, cantando, levando o lixo para fora, curtindo uma piscina, andando na areia, ou mesmo escrevendo. Podem estar distantes, mas estamos sob o mesmo céu, e o sol brilha para todos nós.

Há quem diga que existem pessoas que passam tão rápido por nós, em nossas vidas, que são consideradas anjos – especialmente quando nunca mais vistas novamente. Há, claro, quem diga que saudades são demonstrações de fraqueza, e outros que até chorem por ela.

Saudade dói, é verdade. Mas convivamos com ela, e, se assim tiver de ser, reveremos os estranhos que, por um tempo, fizeram mais falta do que muitos conhecidos.

Procure por “Miss You Love”, do Silverchair.

P.s.: Em breve, postagens sobre Natal, a viagem, e outros afins (como este).

A desconfortável certeza de estar bem

Quase tudo que me acontece parece ter um lado engraçado. Ou irônico. E, se tem uma coisa que me deixa, digamos, me sentindo nervoso (mas não bravo), esse “algo” é uma boa viagem. Viajar é, talvez, a melhor coisa a se fazer nessa Terra. Não há nada melhor que conhecer lugares, ideias, ou simplesmente quebrar a rotina.

Não sei o que você pensa dela, mas eu simplesmente adoro a cidade de São Paulo. Talvez por nela ter nascido – e não ter lá morado mais do que o meu primeiro aninho – eu sinta uma certa nostalgia por ela, que me atrai como um forte ímã. Estar nessa cidade, pra mim, é algo muito bom. Não sei explicar, simplesmente é assim. Eu já tentei entender, mas não consigo. Toda vez que, após ficar em São Paulo, tenho de ir embora, me dá um vazio maior do que o que eu sinto em outras viagens (Se bem que eu nunca viajei para lugares longínquos nem por muito tempo). É como se eu deixasse um pedacinho meu pra trás, em um cruzamento da Paulsita ou em um frágil bilhete de Metrô. Ou com algumas pessoas.

Eu tenho esse “probleminha”: Acho que me apego demais aos lugares onde devo ficar só um tempo. É como se eu exagerasse, não sei. Quando eu chego em casa, é muito bom rever tudo que me acompanha e faz da minha vida uma rotina agradável, mas nada paga a vontade de ter ficado mais uma hora, mais um dia . O familiar ar do quarto, contudo, sempre ajuda a reestabelecer as ideias.

O apartamento onde moro é naturalmente frio. O meu quarto, então… E ele fica um pouco mais frio quando eu fecho os olhos – não necessariamente para dormir – e retomo as sensações que me fizeram bem no tempo em que estive “fora”. É maravilhoso saber que eu pude ter momentos que não pretendo esquecer, mas a parte ruim disso tudo é não poder reviver nada; é saber que o tempo foge do nosso controle.

Hm… Pensando bem, no final das contas, essa é a graça da vida. Porque, se nós pudéssemos ter, sempre que quiséssemos, momentos agradáveis e prazerosos, não valorizaríamos as lembranças, que nada mais são do que o alicerce para vivermos bem e o que nos prepara para o incerto, para o amanhã. Aliás, já dizia uma música do Charlie Brown Jr.: “Na minha vida tudo acontece/ Mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce“.