Alguém (3)

Quando a gente diz “ninguém é perfeito” está sendo honesto. “Ninguém” inclui todos nós; e nós realmente não somos. Uma vez, ouvi que alguns exageram nos defeitos, ao passo que outros parecem estar a um dedinho da perfeição. Grande baboseira. O que é ouro para uns pode muito bem ser barro para outros. Se fosse diferente, você nunca teria dito que o namorado da sua amiga é feio ou que tal cara é demais – ou de menos – pra tal garota.

É claro que há alguns que, por fora, vão agradar muito mais gente que outros. É normal. Aliás, a natureza é assim: tanto que uma orquídea é muito mais cara e valorizada que aquelas florzinhas pequenas que ninguém sabe o nome. Mas aí voltamos ao velho papo que “beleza não é tudo”. Depois vem alguém e rebate dizendo que é “fundamental”, mesmo não sendo tudo. Enfim, o meu ponto não é sobre a necessidade ou a importância da beleza, mas sim sobre como vê-la.

As revistas, modelos e os estilistas que me perdoem, mas beleza – sendo tudo ou nada – não é, nunca foi, nem jamais será padronizada. Isso porque as pessoas não só são diferentes como estão em constante mudança. E é isso que as torna belas aos olhos de uns e de outros não. É algo como uma “lei de equilíbrio”: se houvesse um padrão fixado de beleza, o que seriam dos que estivessem fora do círculo? A beleza em ser belo e em se encantar é justamente ver as coisas como são, sem se deixar influenciar por nada além da natureza.

Então, quando estiver por aí, dando uma volta, a sós com seus botões, pense nisso. Talvez não haja mesmo um príncipe galante por quem jogar as tranças da janela, ou uma donzela indefectível em perigo prisioneira de um dragão. Mas, por trás de cada sorriso, cara fechada, emoção e palavra há um universo infinito esperando apenas um desbravador corajoso; há zilhões de histórias com muitas páginas em branco à espera de alguém que se habilite a escrever em suas linhas com esmero. E amor, claro.

Uma música que acho se encaixar muito bem (mas talvez não perfeitamente) como fundo sonoro deste post é um dos primeiros sucessos do Maroon 5, “She Will Be Loved”.

Nos cabides

Não faz pouco tempo que sofremos com a ditadura da moda e dos inatingíveis padrões de beleza. Se você acha que décadas são pouco tempo, então, tudo bem: digamos que faz pouco tempo. É uma luta interminável, uma glória inalcançável, uma corrida em círculos. Como indivíduo da “nova” geração, ou da atual geração “jovem”, sou uma testemunha extremamente próxima de pessoas que batalham contra quem realmente são em busca de padrões que tomam por verdade, pensando que, uma vez padronizadas, finalmente serão quem foram instigadas a pensar que são.

Vou deixar claro que não sou um crítico da mídia nem mais um adepto do conspiracionismo. Não sou adepto de nada, o que me torna adepto do pensamento (afinal, toda doutrina – mesmo com ares libertários e ensinos sobre si mesma – cerceia as mentes que a seguem, descriminando ou anulando todo ponto de vista contrário). O jeito é conviver com as doutrinas, elementos indissociáveis da sociedade (tomara que não por muito tempo), e, talvez, se borrar com algumas pinceladas daqui e dali, mas, sem jamais deixar-se manchar indelevelmente.

Por isso, acho curioso como tem tanta gente que se preocupa com a moda. Minha mãe sempre diz que ela é cíclica, explicando que nada será old-fashioned pra sempre nem eternamente trendy. A busca cega pela beleza do momento, pelo padrão, por si só é algo errôneo: o que há de belo no uniforme? Estar na moda não é seguir o cardume, sendo, portanto, mais um pontinho que compra as roupas que passam na tevê ou se produzindo como os “astros” da música das últimas 24h?

Você, que chegou até aqui, pode estar um tanto quanto ressabiado com meu ponto de vista, e se perguntando: ué, Guilherme, então você anda nu? Felizmente, não. Mas compro e uso o que gosto. Pincelo, se possível, alguma coisa da “última” moda – muito menos por vontade do que por recomendação de pessoas próximas -, mas isso não me define. Tenho amigos e/ou conhecidos entre punks, coloridos, “boleiros”, introvertidos, extrovertidos e até mesmo bregas. Não faz diferença – ou não deveria fazer. O exterior subiu as escadas da condição humana e agora já segrega, rivaliza e comanda.

Agora, imagine se trocássemos, tal qual no movimento “roque”, do xadrez, os ditadores da moda com os seus pobres e maquiados súditos. E se o estilo original e leve de uma garota de quinze anos influenciasse cantoras e atrizes acéfalas? Será que grandes estilistas – ou “grandes” cabeças da mídia – usariam ou ditariam looks que rechaçassem o visual em detrimento dos valores interiores?

Qual é a graça de parecer com quem não quer se parecer com você? Para quê mudar o que nunca foi um problema? Se já é ridículo ver uns rotulando outros, o que dizer dos que rotulam a si mesmos como “fora do padrão” e mudam – muitas vezes com tinta indelével?

Não sou contra usar amarelo, preto, verde, roxo, listras, xadrez, rasgos ou tudo isso junto. Sou absurdamente contrário a acatar a qualquer uma das opções anteriores sem pensar, sem porquê, deixando a si mesmo pendurado no cabide.

A música que recomendo, após este post, é “The Unwinding Cable Car”, da banda Anberlin. O clipe também merece uma conferida.